sábado, 10 de agosto de 2013

EDUCAÇÃO: ENTRE O SER E O TER


A Educação na Constituição Federal do Brasil é tratada como direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho, sendo o ensino livre à iniciativa privada.

A Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

No caso da Educação Escolar, ela deve se desenvolver, predominantemente, por meio do ensino em instituições apropriadas para tal, vinculando-a ao mundo do trabalho e à prática social. 

No Censo da Educação Superior (2011), o número de ingressantes em cursos de graduação superior, atingiu a marca de 2.346.695 mil. Deste total, 20,91%, ou 490.680 mil, corresponderam a ingressantes em instituições públicas, e 79,09%, ou 1.856.015 em instituições privadas, estatística que consolida a supremacia dessas instituições no ensino superior do País.  

Isto nos remete à seguinte indagação: pode a educação, como direito de todos, estar a reboque da educação como negócio, como bem econômico, na condição de serviço que se compra e que se vende?  

Este questionamento pode ser visto por dois prismas: a participação e a contribuição da iniciativa privada, como empreendimento educacional voltado para a geração de riquezas e apoio ao desenvolvimento econômico, criando emprego e renda para a população; e a forma como essas organizações com fins econômicos produzem e entregam a educação.  

Produzir Educação envolve recursos humanos, financeiros, logísticos e requer técnicas de gestão apropriadas e sustentáveis. Ademais, todo o processo e a sua geração deve ser envolvido pelas boas e recomendadas práticas pedagógicas, sendo o homem, e a sua relação com o mundo, a razão do produto final. 

Para Moran[1]: a educação tem que cativar e conquistar os estudantes. A educação precisa encantar, entusiasmar, seduzir, apontar possibilidades e realizar novos conhecimentos e práticas. O conhecimento se constrói a partir de constantes desafios, de atividades significativas, que excitem a curiosidade, a imaginação e a criatividade. 

Ainda segundo Moran: a educação pública costuma ser identificada como direito, como dever social, como construção de identidade pessoal e grupal (embora também haja muita acomodação, corporativismo e desperdício de recursos). Já a educação privada está mais associada ao bem econômico, ao negócio, investimento financeiro (embora haja grandes instituições que procuram destacar a dimensão social sobre a mercantil).

Nem toda a educação pública desenvolve as dimensões sociais, assim como nem toda a privada só se preocupa com o “business”.

A sociedade do conhecimento determinou profundas transformações ao processo de ensino-aprendizagem, e é cada vez mais exigente com as instituições que estão envolvidas com a educação.

É possível sim, que a educação, como direito, conviva harmoniosamente com o negócio.

Na essência, como empreendimento que depende de seus próprios esforços para gerar receitas e resultados, de forma eficiente e eficaz, para honrar compromissos legais, socioambientais, e ainda promover os investimentos necessários para a sua própria sustentabilidade, deve aliar as boas práticas de gestão, com as pedagógicas e metodológicas exigidas pela educação de qualidade.  


Aos gestores cabe conhecer a boa prática pedagógica, da mesma forma que os educadores devem se deixar tomar pelos saberes gerenciais, viabilizadores do empreendimento, do ensino e da aprendizagem.

Felizmente, este pensamento tem prevalecido e a sociedade passou a perceber que a educação escolar, pública ou privada, deve ser bem administrada. Enquanto pública, os recursos devem ser dispendidos de forma eficiente, eficaz e com efetividade. Enquanto privada, o próprio mercado cuida de punir a prática que não privilegie a sustentabilidade.


[1] José Manuel Moran é bacharel em Televisão pela Escuela de Ciências de la Educación y Comunicación Social da Universidad del Salvador, Buenos Aires. Atualmente é professor de Novas Tecnologias no Curso de Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da USP e desenvolve pesquisa sobre como integrar a comunicação interpessoal e as novas tecnologias à educação. É ainda consultor "ad hoc" do CNPq, da FAPESP e da CAPES. Dentre outros, escreveu o livro: A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá.