Pensar a educação tem sido um exercício secular, tendo em vista o dinamismo constante nos avanços das relações sociais, principalmente no tocante à tecnologia e às imposições da própria essência do capitalismo, que se traduzem na mais extremada competitividade, impulsionada pelo eterno conflito entre explorados e exploradores, e entre os próprios exploradores.
O olhar atento da alemã Hannah Arendt, nos idos dos anos 50, procurou através da sua obra "The Crisis in Education", explicar a crise da educação nos Estados Unidos. E foi a partir dos argumentos de Arendt que Olga Pombo, em seu artigo: o “Insuportável Brilho da Escola” demonstrou o quanto estão vivas, até hoje, as mesmas razões que fundamentaram a crise americana. Ou seja: a progressiva e alarmante transferência para a escola das responsabilidades educativas que, naturalmente, e desde sempre, pertencem à família; a cobrança aos professores muito mais pelas atividades extracurriculares do que pelos conhecimentos por ele adquiridos; e, por último, a idéia de inspiração pragmatista, segundo a qual “não se pode saber e compreender senão aquilo que se faz por si próprio”.
Confrontando o pensamento de Olga Pombo com a pequena amostra extraída da sociedade da Cidade de João Pessoa (PB), representada pelas categorias Governo, Profissional Liberal e Universidade, chega-se a uma convergência de pensamento quanto às razões acima elencadas. Ou seja, a transferência para a escola das responsabilidades de educar inerentes as famílias é motivada pelas condições impostas pela vida moderna, fato que deturpa a sua função essencial que é a de ensinar, e acaba por gerar perdas irrecuperáveis quanto aos valores e referências familiares, além de prejudicar a formação educativa dos jovens.
No tocante às múltiplas atribuições do educador, Olga Pombo chama a atenção para o fato de que a formação de professores competentes de Matemática, português, geografia, história etc., está sendo substituída pela alegre, dinâmica e inovadora "fabricação de educadores", produzindo bons "diretores de turma", com espíritos abertos a todas as novas propostas pedagógicas, capazes de "animar" grupos de alunos, equivalendo a dizer que: se de nada serve saber muito se não se sabe ensinar, então, mais vale saber ensinar do que saber muito. Fato este corroborado pelos entrevistados, onde afirmam que este tipo de desvirtuamento faz com que o professor deixe de ser um mestre para ser um gestor ou burocrata.
Quanto a aprender por si próprio, a autora do artigo comenta [ ] que o professor precisa mais de saber ensinar que de saber aquilo que se propõe ensinar. Até porque o aluno precisa mais de aprender por si próprio que de ser ensinado. É verdade que, ao saber ensinar sem saber muito daquilo que ensina, o professor perde a única fonte legítima da sua autoridade. Mas também é verdade que, ao aprender por si próprio, o aluno não necessita de reconhecer a autoridade do professor. É verdade que, sem a autoridade que advém da competência, ao professor só resta o autoritarismo ou o laxismo. Mas também é verdade que, sem o apoio intelectual do professor, ao aluno só resta o esforço inglório ou o desinteresse.
Neste sentido caminha a opinião dos pesquisados, ou seja, motivar o aluno a aprender exclusivamente por si só não passa de uma transferência de responsabilidades. Entretanto, é importante despertar o interesse pela busca do próprio conhecimento, sem jamais dispensar os ensinamentos do professor, uma vez que o processo de ensino-aprendizagem exige a participação e o envolvimento de todos.
Conclui-se então que ano após ano, a vida moderna vai impondo imensos desvirtuamentos a nem sempre compreensível e aceita distinção entre o ofício de educar e o de ensinar. As famílias reconhecem, mas acabam transferindo o seu mister de educar para as escolas, assim como as escolas deturpam a missão dos professores exigindo-lhes muito mais pelas atividades extracurriculares do que pelos seus conhecimentos pedagógicos, e estes, por sua vez, transferem aos alunos a responsabilidade de aprenderem por si só.

GEORGE WASHINGTON MELO: Mestrando em Ciências da Educação, Master em Finanças Corporativas pela FGV (RJ), Master em Gestão de Negócios -UFPE. Administrador - UEPB - Universidade Estadual da Paraíba (1982). Professor. Assessor de Planejamento do IPÊ - Institutos Paraibanos de Educação. Diretor do BMC - Business Management Center - UNIPÊ. Coordenador do UBS - UNIPÊ Business School. Coordenador do Curso de Pós-Graduação Gestão Estratégica dos Municípios do UNIPÊ. Consultor Financeiro. Palestrante.
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