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[...] uma das vantagens dessa
abordagem reside na uniformidade de métodos de trabalho, de modelos de análise
e linguagem. [...] a psicologia cognitiva têm como "objetivo compreender os processos componentes, as estratégias e as
representações mentais da informação, bem como as interações entre processos,
estratégias e representações que dão origem às diferenças individuais
mensuráveis" das capacidades intelectuais humanas Almeida,
classifica os estudos dessa abordagem em três grandes grupos: estudos
centrados nos mecanismos básicos da cognição, estudos orientados nos
componentes cognitivos da realização e estudos de aplicação em situação real
(HENÀNDEZ, 2004, 31 apud ALMEIDA 1988; STERNBERG, 1992 p.10, grifo nosso).
Segundo Hernàndez (2004), a
psicologia cognitiva, caracteriza-se por estudar detalhadamente os processos
realizados pelos indivíduos ao lidar com a informação. As áreas privilegiadas
pelos cognitivistas são: percepção,
atenção, memória, aprendizagem, raciocínio, solução de problemas, aquisição da
linguagem etc.
A aprendizagem, nesta abordagem, é
definida como o processo responsável pela aquisição das informações a partir de
uma instrução orientada, e sabe-se que parte das diferenças individuais reside
na capacidade para obter vantagens disso, mesmo com instrução incompleta. Os
estudos sobre a aprendizagem na psicologia cognitiva foram impulsionados pelos
estudos sobre memória, os estudos sobre memória ajudaram a reconhecer a relação
entre esta e a aprendizagem. Esses estudos focalizaram tanto a memória de curto
prazo como a recuperação de longo prazo, contando-as como componentes
importantes para a aprendizagem (HERNANDEZ, 2004, p. 32 apud CAMPIONE, BROWN E
BRYANT, 1992).
Do ponto de vista do
raciocínio, a teoria do processamento da informação foi influenciada pela
filosofia, adotando a divisão entre raciocínio dedutivo e indutivo. E a linguagem
é imperativa para a aprendizagem superior e essencial como ferramenta de
sobrevivência em nossa sociedade complexa e tecnológica.
[...] um dos aspectos que contribui
para as diferenças individuais na compreensão da linguagem reside na memória de
trabalho. Os indivíduos variam de acordo com o montante de capacidade de
ativação que dispõe para atender a demanda de computação e armazenamento do
processamento da linguagem. Isso resulta em diferenças qualitativas e
quantitativas com as quais os indivíduos entendem a linguagem. As diferenças
entre os indivíduos aumentam quando a tarefa é muito complexa, pois ela exige mais
recursos dos indivíduos (HERNÀNDEZ, 2004, p. 35, apud JUST E CARPENTER, 1992).
De acordo com Hernàndez
(2004), independente das teorias utilizadas, deve-se ter claro o significado dos
termos científicos relativos à inteligência, habilidade, competência, aptidão,
raciocínio, desempenho cognitivo, que, muitas vezes, são utilizados como
sinônimos causando certa confusão.
Termo
Científico
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Significado
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Inteligência
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Conjunto
de habilidades de um indivíduo que permitem que ele realize diferentes
atividades na sua vida de maneira a se adaptar às demandas do ambiente,
incluindo também a capacidade de ponderar sobre os próprios processos de
pensamento e encontrar meios de melhorá-los.
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Habilidades
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Potencial
do indivíduo para realizar determinada tarefa, tanto física como mental, com
relativa facilidade (Primi, 1999).
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Competência
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Refere-se
a um nível esperado de realização para uma determinada atividade. Três
aspectos são fundamentais para o desenvolvimento da competência: primeiro o
indivíduo deve ter a habilidade (potencial) para a atividade; segundo, deve
passar por experiências adequadas de aprendizagem, e terceiro, deve se dedicar
ou investir nessas experiências (Primi, 1999). A constatação da competência
na academia pressupõe um conjunto de critérios estabelecidos referenciados no
perfil do aluno que se quer formar, descrito no projeto pedagógico do
estabelecimento de ensino. Esses critérios formam a base para o julgamento
das competências dos alunos analisados a partir de seu desempenho acadêmico.
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Aptidão
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Conjunto
de características afetivas, conativas, psicomotoras, de personalidade e
cognitivas que perduram no indivíduo e contribuem para o desempenho bem
sucedido numa situação particular (Snow, apud Flanagan, McGrew e Ortiz,
2000).
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Raciocínio
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Conjunto
de funções mentais para o tratamento da informação, que incluem, desde a
capacidade para identificar os elementos de um problema e conceitualizá-lo
até a avaliação da resposta elaborada (Almeida, 1988).
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Desempenho
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Refere-se
à observação da realização do indivíduo que é a expressão de suas
habilidades. A descrição do termo desempenho envolve a dimensão da ação e, o
rendimento é o resultado da sua avaliação, expresso na forma de notas ou
conceitos obtidos pelo sujeito em determinada atividade. Destaca-se ainda
que, no termo utilizado na área de administração, a análise dos resultados
deve apontar para necessidades de modificação ou melhora numa estrutura de
retroalimentação do sistema.
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Fonte: Vários autores
Teoria das
Múltiplas Inteligências e a Teoria Triádica
Muitos psicólogos
cognitivistas, em colaboração com investigadores da Inteligência da Informação
– IA, usando o modelo de processamento da informação computadorizado
desenvolveram um modelo de inteligência, na tentativa de compreendê-la em
função do processamento cognitivo inteligente, através da analogia entre o modo
como as pessoas pensam e o modo como um programa computadorizado realiza
cálculos, durante a resolução de problemas.
Para Sternberg (2000), as
teorias disponíveis baseadas no processamento da informação, não têm pretensão
alguma de fornecer uma explanação do desenvolvimento cognitivo tão compreensiva
e bem-integrada como fez Piaget e Vigotsky.
Os teóricos do processamento da
informação procuram compreender o desenvolvimento cognitivo em função de como
as pessoas de diferentes idades tratam a informação (i.e., como decodificam,
codificam, transferem, combinam, armazenam e recuperam), especialmente quando
resolvem problemas mentais desafiadores (STERNBERG, 2000, p. 386).
Os teóricos do processamento
da informação utilizam uma abordagem essencialmente geral, ou uma
essencialmente especifica para o domínio da informação. Os teóricos gerais
tentam descrever, em termos gerais, como se trata mentalmente a informação, mostram
como os princípios gerais do processamento da informação aplicam-se e são
usados ao longo de uma variedade de funções cognitivas, desde fazer julgamentos
perceptivos para entender um texto escrito até ler mapas para resolver
problemas de cálculos.
Lemos (2007), tratou a
abordagem do processamento da informação através da Teoria das Inteligências
Múltiplas de Gardner, e da Teoria Triádica da Inteligência de Sternberg.
Gardner não fala em
inteligência, mas de inteligências, e compara cada uma delas a elementos de um
sistema químico ou constituintes básicos que estão presentes em todos os
indivíduos, e apresenta-as como capacidades para resolver problemas ou elaborar
produtos que são valorizados num ou mais contextos culturais, e ainda faz corresponder,
cada uma dessas inteligências, a esquemas de processamento de informação
específicos, cuja relevância deve ser considerada à luz do que é valorizado no meio
em que o sujeito vive. Alargou o espectro das aptidões a avaliar na
resolução/criação de problemas, diversificando a natureza daquelas, e chamou a
atenção para a necessidade de promover oportunidades de exploração, estimulação
e instrução no desenvolvimento das inteligências (LEMOS, 2007, apud GARDNER,
1983).
Segundo Sternberg (2000,
p.414 apud GARDNER, 1983; 1993b), “propôs uma teoria de inteligências
múltiplas, na qual a inteligência não é exatamente um construto isolado,
unitário”. De outra forma, Gardner ao invés de falar de capacidades múltiplas
que constituem a inteligência num conjunto, tal qual Thurstone e outros, ele
postulou que existe sete inteligências distintas, que até certo ponto, são
independentes uma das outras, conforme se apresenta no quadro abaixo, e cada
uma é um sistema individual de funcionamento, podendo interagir uns com os
outros, para produzirem o que se considera desempenho inteligente.
Tipo
de Inteligência
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Tarefas
que Refletem
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Linguística
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Usada
para ler um livro, para redigir um trabalho, um romance ou um poema, bem como
para compreender as palavras faladas.
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Lógico-matemática
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Usada
para resolver problemas matemáticos, controlar o saldo em um talão de cheque,
resolver uma prova de matemática e para o raciocínio lógico.
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Espacial
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Usada
para ir de um lugar para outro, na leitura de um mapa e no acondicionamento
de maletas no compartimento de bagagens de um carro, de modo que todas se
encaixem em um espaço compacto.
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Musical
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Usada
para cantar uma canção, compor uma sonata, tocar trompete ou mesmo avaliar a
estrutura de uma peça musical.
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Cinestésico-corporal
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Usada
para dançar, jogar basquete, correr uma milha ou lançar dados.
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Interpessoal
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Usada
nas relações com outras pessoas, tais como quando tentamos compreender o
comportamento, as razões ou as emoções de outra pessoa.
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Intrapessoal
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Usada
na nossa própria compreensão – a base para compreendermos quem somos, quais
são as características de nossa personalidade e como podemos modificar-nos,
dadas nossas limitações em nossas capacidades e em nossos interesses.
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Fonte: Sternberg (2008)
A Teoria de Gardner, em
alguns aspectos, parece-se com a fatorial, pois especifica diversas capacidades
que são construídas para refletirem a inteligência de algum modo. Entretanto,
ele considera cada capacidade como uma inteligência independente, não apenas
como uma parte de um único todo. Além do mais, uma diferença crítica entre a
teoria de Gardner e as teorias fatoriais está nas fontes de evidência que ele utilizou
para identificar as sete inteligências. Ele usou operações convergentes,
coletando evidências de múltiplas fontes e tidos de dados, e chama a atenção
para oito sinais que utilizou como critérios para detectar a existência de uma
espécie distinta de inteligência (STERNBERG, 2000 apud GARDNER, 1983, p.
63-67), conforme se vê no quadro abaixo.
Sinais
Usados para Detectar os Tipos de Inteligência Múltiplas de Gardner
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01
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Isolamento
potencial por dano cerebral, no qual a destruição ou a privação de uma área
isolada do cérebro, por exemplo: as áreas ligadas à afasia verbal podem
destruir ou privar de um tipo específico de comportamento inteligente.
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02
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A
existência de pessoas excepcionais, por exemplo: prodígios musicais ou
matemáticos, que demonstram extraordinária capacidade ou déficit, em um
determinado tipo de comportamento inteligente.
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03
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Uma
operação ou um conjunto de operações centrais identificáveis, por exemplo:
detecção de relações entre tons musicais, que são essenciais à realização de
um tipo específico de comportamento inteligente.
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04
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Uma
história característica de desenvolvimento que leva do principiante ao
mestre, juntamente com níveis discrepantes de desempenhos expertos, por
exemplo: graus variados de expressão desse tipo de inteligência.
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05
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Uma
história evolutiva característica, na qual os acréscimos em inteligência
podem estar associados plausivelmente ao aumento da adaptação ao ambiente.
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06
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Evidência
de apoio da pesquisa experimental cognitiva como as diferenças de desempenho
especifica para a tarefa, entre espécies distintas de inteligência, por
exemplo: tarefas viso espaciais versus
tarefas verbais, acompanhadas por semelhanças no desempenho entre tarefas
dentro de espécies distintas de inteligência, por exemplo: rotação mental de
imagens viso espacial e evocação da memória dessas imagens.
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07
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Evidência
de apoio dos testes psicométricos indicando inteligências distintas, por
exemplo: desempenho diferente em testes de capacidades viso espaciais versus testes de capacidades linguísticas.
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08
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Suscetibilidade
à codificação em um sistema simbólico, por exemplo: linguagem, matemática,
notação musical, ou em uma arena culturalmente planejada, por exemplo: em uma
dança, ginástica, teatro, engenharia ou cirurgia, como expressões
culturalmente planejadas da inteligência cinestésica corporal.
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Fonte: Adaptado de Sternberg (2008, p.
415-416)
A concepção de Gardner sobre a mente
é modular. Os teóricos da modularidade creem que as diferentes capacidades –
tais como as inteligências de Gardner – podem ser isoladas à medida que emanam
de regiões distintas ou de módulos cerebrais. Assim, uma tarefa importante da
pesquisa atual e futura sobre inteligências é isolar as regiões cerebrais
responsáveis por cada uma das inteligências. Ele especulou sobre, pelo menos,
alguns desses locais, mas a difícil evidência para a existência dessas
inteligências distintas ainda ter de ser produzidas (STERNBERG, 2000, p.416.
Na teoria triádica de Sternberg,
a inteligência não pode ser totalmente compreendida quando isolada de um
determinado contexto cultural, sendo que as suas componentes manifestam-se em
diferentes graus de experiência, em tarefas e situações que variam na
relevância que assumem na vida dos indivíduos (LEMOS, 2007 apud STERNBERG, 1985.
Gardner enfatiza a
independência dos vários aspectos da inteligência, e, por outro lado, Sternberg
enfatiza a dimensão na qual eles funcionam juntos, ou seja, para ele a
inteligência compreende três aspectos: (a) com o mundo interno na pessoa; (b)
com a experiência, e (c) com o mundo externo, conforme na figura abaixo.
Figura: A Teoria Triáquica da Inteligência de Sternberg
Fonte: Figura 14.5 (STERNBERG, 2000, p.416)
A definição de inteligência
deve refletir o contributo dos componentes cognitivos, dos contextos e da
experiência dos indivíduos. De forma integrativa, Sternberg desenvolve numa
teoria sobre os indivíduos e sobre as suas relações com o seu mundo interno e
externo, cujas experiências funcionam como verdadeiros mediadores. Esta
concepção mais alargada da inteligência humana apresenta-se também como mais
próxima do mundo real, na medida em que para além de apoiar uma inteligência
mais academicista, integra ainda uma
inteligência dita prática,
fundamental para o sucesso em tarefas do quotidiano. Mais do que o know how,
ou o conhecimento tácito de como executar algo, know when and know
where, ou seja, saber quando e onde utilizar as aptidões (LEMOS 2007 apud
STERNBERG, 1985)
estudo da inteligência na abordagem
cognitivista, não se liga nem com a avaliação de sua estrutura da abordagem
psicométrica diferencial, nem com a interpretação dos estágios e esquemas do seu
desenvolvimento, conforme postula a abordagem desenvolvimentalista, mas com a
explicação dos processos, estratégias e elementos funcionais e operativos que
tornam possível o ato inteligente. A
abordagem cognitivista faz uma leitura mais dinâmica da inteligência e uma
análise mais acurada das respectivas componentes cognitivas, proposta pela
teoria do processamento da informação (LEMOS, 2007).