segunda-feira, 12 de agosto de 2013

EDUCAÇÃO: ABORDAGEM NEUROBIOLÓGICA DA INTELIGÊNCIA




H
á muito que, de um modo geral, o cérebro desperta a atenção da comunidade científica, entender a sua estrutura e o seu funcionamento é compreender o próprio ser humano. Durante o século XIX na Europa, havia muito interesse sobre a questão do cérebro e da mente. E foi neste mesmo século que se deu o primeiro estudo científico sobre a inteligência humana, com a ideia de que a medição dos crânios revelaria coisas ligadas ao intelecto, a ideia era de que quanto maior o crânio, maior o cérebro e mais alta a inteligência (SIMONETTI, 2008).


Ainda segundo Simonetti (2008), o final do século XX foi marcado por um período de incentivo à investigação dos processos neurais, com novas técnicas sendo aperfeiçoadas para compreender melhor o funcionamento do cérebro. Muitos esforços foram somados, de neurologistas, psicólogos, biólogos a farmacologistas, dentre outros, constituindo-se novas ciências como a neuroquímica, a neurofisiologia, a neurociência computacional ou a neurociência cognitiva.

O século XXI desponta com investigações significativas e avanços notáveis. Um estudo que se destaca é o projeto Atlas do Cérebro. O projeto pretende estabelecer um mapa tridimensional do cérebro, estendendo-se ao nível molecular. O Projeto Genoma Humano, é outro importante esforço mundial em nível molecular, desenvolvido por vários países (SIMONETTI, 2008).

Para Sternberg (2000), embora o cérebro humano seja, evidentemente, o órgão responsável pela inteligência humana, os primeiros estudos que procuraram descobrir os índices biológicos da inteligência e outros aspectos dos processos mentais foram um retumbante fracasso, apesar do grande esforço. À medida que os instrumentos para estudo do cérebro vão se tornando mais sofisticados, começa-se a ver a possibilidade de descobrir indicações fisiológicas da inteligência.

Uma concepção moderna do cérebro, fruto dos avanços nas neurociências ao longo das ultimas décadas, considera-o composto por múltiplos circuitos distribuídos. Tentativas didáticas, com o objetivo de tornar compreensível a sua complexidade, às vezes conduzem a uma forma simplista de pensar, como localizar a memória, exclusivamente, no hipocampo ou a linguagem no hemisfério esquerdo, usada durante muitos anos. Essa concepção reducionista aparece hoje substituída pela concepção de que nenhuma região isolada pode ou consegue executar qualquer função mental sem a cooperação de outras regiões cerebrais (SIMONETTI, 2008, p. 58 apud ANDREASEN, 2003).

Segundo Simonetti (2008 apud ANDREASEN, 2003) ao falar do admirável cérebro novo, Andreasen faz a seguinte comparação: o funcionamento do cérebro humano é como uma grande orquestra que está continuamente a tocar uma grande sinfonia. Não podemos apontar para nenhuma parte isolada, ou mesmo para uma combinação de partes e dizer que constitui a orquestra ou a sinfonia. O miraculoso processo de atividade mental ocorre regularmente, em todos nós, a toda hora, quer sejamos talentosos ou pessoas normais.

O cérebro está dividido em grandes áreas sensoriais e motoras, como pode se observar na figura abaixo.

                             Figura: áreas sensoriais e motoras do cérebro
                             Fonte: Simonetti (2008, p.59)
Teoria Neurobiológica

Pesquisadores na área das neurociências desenvolvem uma compreensão de cognição e inteligência vinculada ao funcionamento mental. No passado, acentuava-se a separação entre cognição, motivação e afeto, contudo, hoje se entende a cognição como a capacidade de processar informações, de reagir ao que percebemos no mundo e em nós mesmos, sendo o cérebro o órgão responsável pela cognição, bem como pela emoção e motivação (SIMONETTI, 2008 apud STERNBERG, 2000a, p. 74).

Segundo Simonetti (2008, apud LYNCAN, 1990), a cognição é geralmente usada como referência a todas as faculdades ou funções do cérebro, e este percebe, registra e processa informação para produzir o comportamento inteligente. Sob essa ótica, a função cognitiva é um processo biológico de representação, armazenamento e recuperação de informações, e, ao mesmo tempo, é produto dessas atividades de processamento pela manifestação de estratégias para encontrar soluções.

Não há dúvidas entre os pesquisadores de que o cérebro é o órgão responsável pela inteligência humana, mas mesmo com instrumentos cada dia mais sofisticados ainda são poucas as indicações fisiológicas da inteligência. As investigações estão centradas nos seguintes aspectos: (i) relações das funções cerebrais com o córtex; (ii) metabolismo neural; e (iii) atividade elétrica nas transmissões neurais. Para Thompson e Toga (2005), existem várias evidências que sustentam a correlação entre a estrutura cerebral e a inteligência (SIMONETTI, 2008, p. 65).

A cognição como ato de pensar, sob a ótica neurobiológica, pode ser vista como: praticar química cerebral; produzir neurotransmissores, e os mensageiros que medeiam os processos bioquímicos de nosso cérebro, sejam como produtores de energia, ou seja, oxidação da glicose, hidrólise de fosfocreatina etc., sejam como consumidores Destacam-se, nesse circuito, a seratonina, como atividades ligadas ao impulso, a noraadrenalina ou a epinefrina, como o interesse que as coisas despertam no indivíduo, e a dopamina, como mecanismo de tomada de decisões.

O entusiasmo das ciências neurais nos dias atuais reside na convicção de que se estão desenvolvendo as ferramentas para explorar o órgão da mente e, consequentemente, o otimismo de que as bases biológicas da inteligência se tornarão, progressivamente, compreensíveis (Kandel, 2000). Nesta linha, Bárbara Clark (2007) chama atenção que, para compreendermos por que algumas pessoas apresentam um alto nível de inteligência e outras não, necessitamos de nos familiarizar com a estrutura básica do cérebro humano e as suas quatro grandes áreas diferenciadas, tanto estruturais como funcionalmente, mais concretamente as funções física, emocional, cognitiva e intuitiva (SIMONETTI, 2008, p. 66).

Do ponto de vista da aprendizagem, esta é uma função nobre dos neurônios e não pode ser realizada por um impulso apenas, necessita de grupos de neurônios. O processo se inicia com a chegada do estímulo ao cérebro, ele é selecionado e após ser processado a diferentes níveis, forma um potencial de memória para que, em situações posteriores, a informação possa ser ativada facilmente (SIMONETTI, 2008 apud GREENFIELD, 1995).

Lemos (2007), baseado em diversos estudos apresentados por vários autores, centrou-se na compreensão dos fatores biológicos enquanto possíveis fontes das diferenças individuais de inteligência. Assim, no tocante à genética, os dados obtidos em estudos com gêmeos educados juntos; gêmeos educados separadamente; e indivíduos não relacionados, educados juntos, fornecem três linhas independentes de evidências que convergem para as seguintes conclusões: (i) a hereditariedade parece ser um fator importante na variação da população em habilidades cognitivas, notadamente com relação à inteligência; (ii) os efeitos genéticos sobre o QI tendem a aumentar com a idade e a perdurar até à velhice; e (iii) as influências ambientais na inteligência parecem ocorrer precocemente, mas não parecem ser duradouras.

Uma abordagem alternativa para o estudo cerebral sugere que a eficiência neural pode estar relacionada com a inteligência; essa abordagem baseia-se em estudos de como o cérebro metaboliza a glicose (açúcar simples necessário para a atividade cerebral), durante as atividades mentais [   ] outros pesquisadores sustentam [...] que a inteligência superior correlaciona-se com níveis reduzidos do metabolismo da glicose durante as tarefas de resolução de problemas – isto é, cérebros mais sabidos consomem menos açúcar [...] Haier e outros colabodores descobriram que a eficiência cerebral aumenta como resultado da aprendizagem em uma tarefa relativamente complexa, que envolve manipulações visuoespaciais [...] Algumas pesquisas neuropsicológicas [  ] sugerem que o desempenho em testes de inteligência podem não indicar um aspecto crítico da inteligência: a capacidade para alcançar os objetivos, para planejar como alcançá-los e para executar esse plano (STERNBERG, 2000, p. 411).

De acordo com Sternberg (2000), se a inteligência envolve a capacidade para aprender a partir da experiência e adaptar-se ao ambiente circundante, a capacidade para estabelecer objetivos e delinear e executar planos não pode ser ignorado. Um aspecto essencial do estabelecimento e do planejamento de objetivos é a capacidade para atender, apropriadamente, aos estímulos relevantes e ignorar ou desprezar os estímulos irrelevantes.

Simometti (2008) comenta sintetizando que as diferenças individuais em relação ao desenvolvimento intelectual, que tem sido um dos interesses principais da psicologia ao longo dos tempos, nos últimos anos têm voltado sua atenção também para os aspectos neurológicos. As variações individuais são hoje estudadas também em nível neurofisiológico, buscando-se teorias baseadas na estrutura física e na função do cérebro, assim como a identificação de variáveis que possam estar vinculadas ou na origem desta diferenciação.