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á muito que, de um modo
geral, o cérebro desperta a atenção da comunidade científica, entender a sua estrutura
e o seu funcionamento é compreender o próprio ser humano. Durante o século XIX
na Europa, havia muito interesse sobre a questão do cérebro e da mente. E foi
neste mesmo século que se deu o primeiro estudo científico sobre a inteligência
humana, com a ideia de que a medição dos crânios revelaria coisas ligadas ao intelecto,
a ideia era de que quanto maior o crânio, maior o cérebro e mais alta a
inteligência (SIMONETTI, 2008).
Ainda segundo Simonetti
(2008), o final do século XX foi marcado por um período de incentivo à
investigação dos processos neurais, com novas técnicas sendo aperfeiçoadas para
compreender melhor o funcionamento do cérebro. Muitos esforços foram somados,
de neurologistas, psicólogos, biólogos a farmacologistas, dentre outros, constituindo-se
novas ciências como a neuroquímica, a neurofisiologia, a neurociência
computacional ou a neurociência cognitiva.
O século XXI desponta com
investigações significativas e avanços notáveis. Um estudo que se destaca é o
projeto Atlas do Cérebro. O projeto
pretende estabelecer um mapa tridimensional do cérebro, estendendo-se ao nível
molecular. O Projeto Genoma Humano, é outro importante esforço mundial em nível
molecular, desenvolvido por vários países (SIMONETTI, 2008).
Para
Sternberg (2000), embora o cérebro humano seja, evidentemente, o órgão
responsável pela inteligência humana, os primeiros estudos que procuraram descobrir
os índices biológicos da inteligência e outros aspectos dos processos mentais
foram um retumbante fracasso, apesar do grande esforço. À medida que os
instrumentos para estudo do cérebro vão se tornando mais sofisticados, começa-se
a ver a possibilidade de descobrir indicações fisiológicas da inteligência.
Uma concepção moderna do cérebro,
fruto dos avanços nas neurociências ao longo das ultimas décadas, considera-o
composto por múltiplos circuitos distribuídos. Tentativas didáticas, com o
objetivo de tornar compreensível a sua complexidade, às vezes conduzem a uma
forma simplista de pensar, como localizar a memória, exclusivamente, no
hipocampo ou a linguagem no hemisfério esquerdo, usada durante muitos anos.
Essa concepção reducionista aparece hoje substituída pela concepção de que
nenhuma região isolada pode ou consegue executar qualquer função mental sem a
cooperação de outras regiões cerebrais (SIMONETTI, 2008, p. 58 apud ANDREASEN,
2003).
Segundo Simonetti (2008 apud
ANDREASEN, 2003) ao falar do admirável
cérebro novo, Andreasen faz a seguinte comparação: o funcionamento do
cérebro humano é como uma grande orquestra que está continuamente a tocar uma
grande sinfonia. Não podemos apontar para nenhuma parte isolada, ou mesmo para
uma combinação de partes e dizer que constitui a orquestra ou a sinfonia. O
miraculoso processo de atividade mental ocorre regularmente, em todos nós, a
toda hora, quer sejamos talentosos ou pessoas normais.
O cérebro está dividido em
grandes áreas sensoriais e motoras, como pode se observar na figura abaixo.
Figura: áreas sensoriais e motoras do cérebro
Fonte: Simonetti
(2008, p.59)
Teoria Neurobiológica
Pesquisadores na área das
neurociências desenvolvem uma compreensão de cognição e inteligência vinculada
ao funcionamento mental. No passado, acentuava-se a separação entre cognição,
motivação e afeto, contudo, hoje se entende a cognição como a capacidade de
processar informações, de reagir ao que percebemos no mundo e em nós mesmos,
sendo o cérebro o órgão responsável pela cognição, bem como pela emoção e motivação
(SIMONETTI, 2008 apud STERNBERG, 2000a, p. 74).
Segundo Simonetti (2008, apud
LYNCAN, 1990), a cognição é geralmente usada como referência a todas as
faculdades ou funções do cérebro, e este percebe, registra e processa
informação para produzir o comportamento inteligente. Sob essa ótica, a função
cognitiva é um processo biológico de representação, armazenamento e recuperação
de informações, e, ao mesmo tempo, é produto dessas atividades de processamento
pela manifestação de estratégias para encontrar soluções.
Não há dúvidas entre os pesquisadores
de que o cérebro é o órgão responsável pela inteligência humana, mas mesmo com
instrumentos cada dia mais sofisticados ainda são poucas as indicações
fisiológicas da inteligência. As investigações estão centradas nos seguintes
aspectos: (i) relações das funções cerebrais com o córtex; (ii) metabolismo
neural; e (iii) atividade elétrica nas transmissões neurais. Para Thompson e
Toga (2005), existem várias evidências que sustentam a correlação entre a
estrutura cerebral e a inteligência (SIMONETTI, 2008, p. 65).
A cognição como ato de
pensar, sob a ótica neurobiológica, pode ser vista como: praticar química
cerebral; produzir neurotransmissores, e os mensageiros que medeiam os
processos bioquímicos de nosso cérebro, sejam como produtores de energia, ou
seja, oxidação da glicose, hidrólise de fosfocreatina etc., sejam como consumidores
Destacam-se, nesse circuito, a seratonina, como atividades ligadas ao impulso, a
noraadrenalina ou a epinefrina, como o interesse que as coisas despertam no
indivíduo, e a dopamina, como mecanismo de tomada de decisões.
O entusiasmo das ciências neurais nos
dias atuais reside na convicção de que se estão desenvolvendo as ferramentas
para explorar o órgão da mente e, consequentemente, o otimismo de que as bases
biológicas da inteligência se tornarão, progressivamente, compreensíveis
(Kandel, 2000). Nesta linha, Bárbara Clark (2007) chama atenção que, para
compreendermos por que algumas pessoas apresentam um alto nível de inteligência
e outras não, necessitamos de nos familiarizar com a estrutura básica do
cérebro humano e as suas quatro grandes áreas diferenciadas, tanto estruturais
como funcionalmente, mais concretamente as funções física, emocional, cognitiva
e intuitiva (SIMONETTI, 2008, p. 66).
Do ponto de vista da
aprendizagem, esta é uma função nobre dos neurônios e não pode ser realizada
por um impulso apenas, necessita de grupos de neurônios. O processo se inicia
com a chegada do estímulo ao cérebro, ele é selecionado e após ser processado a
diferentes níveis, forma um potencial de memória para que, em situações
posteriores, a informação possa ser ativada facilmente (SIMONETTI, 2008 apud GREENFIELD,
1995).
Lemos (2007), baseado em
diversos estudos apresentados por vários autores, centrou-se na compreensão dos
fatores biológicos enquanto possíveis fontes das diferenças individuais de
inteligência. Assim, no tocante à genética, os dados obtidos em estudos com gêmeos
educados juntos; gêmeos educados separadamente; e indivíduos não relacionados, educados
juntos, fornecem três linhas independentes de evidências que convergem para as
seguintes conclusões: (i) a hereditariedade parece ser um fator importante na variação
da população em habilidades cognitivas, notadamente com relação à inteligência;
(ii) os efeitos genéticos sobre o QI tendem a aumentar com a idade e a perdurar
até à velhice; e (iii) as influências ambientais na inteligência parecem
ocorrer precocemente, mas não parecem ser duradouras.
Uma
abordagem alternativa para o estudo cerebral sugere que a eficiência neural
pode estar relacionada com a inteligência; essa abordagem baseia-se em estudos
de como o cérebro metaboliza a glicose (açúcar simples necessário para a
atividade cerebral), durante as atividades mentais [ ] outros pesquisadores sustentam [...] que a
inteligência superior correlaciona-se com níveis reduzidos do metabolismo da
glicose durante as tarefas de resolução de problemas – isto é, cérebros mais
sabidos consomem menos açúcar [...] Haier e outros colabodores descobriram que
a eficiência cerebral aumenta como resultado da aprendizagem em uma tarefa
relativamente complexa, que envolve manipulações visuoespaciais [...] Algumas
pesquisas neuropsicológicas [ ] sugerem
que o desempenho em testes de inteligência podem não indicar um aspecto crítico
da inteligência: a capacidade para alcançar os objetivos, para planejar como
alcançá-los e para executar esse plano (STERNBERG, 2000, p. 411).
De
acordo com Sternberg (2000), se a inteligência envolve a capacidade para
aprender a partir da experiência e adaptar-se ao ambiente circundante, a
capacidade para estabelecer objetivos e delinear e executar planos não pode ser
ignorado. Um aspecto essencial do estabelecimento e do planejamento de
objetivos é a capacidade para atender, apropriadamente, aos estímulos
relevantes e ignorar ou desprezar os estímulos irrelevantes.
Simometti (2008) comenta
sintetizando que as diferenças individuais em relação ao desenvolvimento
intelectual, que tem sido um dos interesses principais da psicologia ao longo dos
tempos, nos últimos anos têm voltado sua atenção também para os aspectos
neurológicos. As variações individuais são hoje estudadas também em nível neurofisiológico,
buscando-se teorias baseadas na estrutura física e na função do cérebro, assim
como a identificação de variáveis que possam estar vinculadas ou na origem
desta diferenciação.