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De outra forma, como exemplo, narrado através da
biografia de grandes psicólogos, pode-se citar: a History of Psychology
de David Hothersall (1990), e uma antologia de textos clássicos de Herrnstein e
Boring (1971).
Há, entretanto, na Psicologia, uma grande
diversidade de teorias. Alguns autores preferem organizar sua história sob o
ponto de vista de cada uma. Exemplo: as Teorias de Personalidade Hall e Lindsey
(1957), e as Teorias da Aprendizagem Hilgard (1956). A linha adotada aqui é o da Teoria da Aprendizagem,
tendo como protagonista os escritos de Hilgard (1904-2001).[3]
CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS DA
APRENDIZAGEM
Torna-se importante, e para
um melhor entendimento desta abordagem, apresentar as teorias conforme sua
classificação.
As teorias de aprendizagem pertencem a
duas famílias principais: teorias de
estímulo-resposta e teorias cognitivas; mas nem todas as teorias pertencem
a estas famílias. As teorias de estímulo-resposta incluem membros diferentes
como as teorias de Thorndike, de Guthrie, de Skinner e de Hull. As teorias
cognitivas incluem pelo menos as de Tolman, os psicólogos clássicos da Gestalt
e Lewin. As teorias do funcionalismo, as psicodinâmicas e as teorias
probabilísticas dos construtores de modelo não são nitidamente classificáveis
nestes termos. As linhas de separação entre as duas famílias de teorias não são
as únicas existentes entre as teorias de aprendizagem; há outras controvérsias
específicas sobre as quais podem diferir pertencentes a uma mesma família
(HILGARD, 1973, p.10-11, grifo nosso).
A abordagem dará ênfase às Teorias do Estímulo-Resposta,
conhecidas também como do Condicionamento, ou ainda Comportamentais; e as
Teorias Cognitivas.
Para Bock et al (1993), as
teorias do condicionamento, ou estímulo-resposta, definem a
aprendizagem pelas suas consequências comportamentais e enfatizam as condições
ambientais como forças propulsoras da aprendizagem, e as cognitivistas são como um processo de relação do sujeito com o
mundo externo e que tem consequências no plano da organização interna do
conhecimento – organização cognitiva.
CONTROVÉRSIAS BÁSICAS ENTRE AS
TEORIAS DA APRENDIZAGEM
As teorias seriamente elaboradas e que obedecem a uma
lógica metodológica, apesar das controvérsias, têm seus resultados respeitados.
Os teóricos, embora discordem sobre os argumentos, aceitam as descobertas
estabelecidas em experimentos que possam ser repetidos, até para não perderem status e manterem as suas sob o respeito
dos pares. Ademais, algumas teorias que antes pareciam bem definidas quanto às
suas diferenças, hoje estas diferenças apresentam-se turvas.
A primeira regra que devemos estar prontos a aceitar, à
medida que julgamos o mérito relativo das diferentes teorias, é a seguinte:
Todos os teóricos aceitam todos os fatos. Algumas descobertas experimentais são
postas em dúvida quando primeiro anunciadas e o status da descoberta como fato
pode por muito tempo ser posto em dúvida; mas, uma vez estabelecido esse
status, todos aceitam o fato verdadeiro. Daí as diferenças entre dois teóricos
serem primariamente diferenças de interpretação. Ambas as teorias podem
concordar com os fatos razoavelmente bem, mas o proponente de cada teoria
acredita ser o seu ponto de vista o mais produtivo. Estaremos melhor preparados
para descobrir os modos como as teorias são validadas ou modificadas mais tarde
quando estivermos familiarizados com elas em maiores detalhes. No momento,
precisamos estar preparados para aceitar a verdade histórica de que as teorias
oponentes têm grande valor de sobrevivência e de que um apelo aos fatos como
uma forma de escolha entre as teorias é um processo muito complexo, e não tão
decisivo na prática como poderíamos esperar que fosse (HILGARD, 1973, p.10-11).
De forma geral, e a priori,
pode-se apontar e discorrer sobre três controvérsias que envolvem as teorias
estímulo-resposta e as cognitivistas, ou seja: (i) à questão do que é
aprendido e de como é aprendido; (ii) à questão do que mantém o comportamento
que é aprendido; (iii) e a maneira como se soluciona uma nova
situação-problema.
A questão do que é aprendido e de como é aprendido
Para
os teóricos do condicionamento, aprendemos hábitos, isto é, aprendemos a
associação entre um estímulo e uma resposta e aprendemos praticando; para os cognitivistas,
aprendemos a relação entre ideias (conceitos) e aprendemos abstraindo de nossa
experiência (BOCK.
et al, 1993, p. 100).
Hilgard (1973) trata essa
controvérsia como: Aquisição de Hábitos
versus Aquisição de Estruturas Cognitivas. Ainda segundo o autor: O teórico
do estímulo-resposta e o teórico cognitivo surgem com soluções diferentes ante
a questão: O que é aprendido? A solução do primeiro é hábitos; a do último é estruturas
cognitivas. A primeira solução faz apelo ao senso comum: todos nós sabemos que desenvolvemos
habilidades, praticando-as; aquilo que aprendemos são respostas. Mas a
segunda solução apela também ao senso comum; se localizarmos uma confeitaria, partindo de um certo ponto, poderemos
encontrá-la partindo de um outro ponto porque sabemos onde ela esta; o que nós
aprendemos são fatos. Uma habilidade ilustra um hábito aprendido; conhecer rotas alternadas ilustra estruturas cognitivas.
Mas, o psicólogo do estímulo-resposta se
satisfaz em deduzir das leis da formação do hábito o comportamento que o
teórico cognitivo acredita sustentar a sua interpretação. Daí não poder
escolher entre as teorias apresentando ilustrações decisivas do que aprendemos, pois ambos os grupos de teóricos
oferecerão explicações para todos os exemplos. As teorias em competição não
teriam sobrevivido até agora se fossem incapazes de oferecer tais explicações
(HILGARD, 1973, p. 13).
A questão do que mantém o comportamento que é aprendido
Para os teóricos do
condicionamento, o comportamento é
mantido pelo sequenciamento de respostas. Explicando melhor: uma resposta
é, na realidade, um conjunto de respostas. Quando falamos no comportamento de
abrir uma porta, é fácil perceber que ele é composto de diversas respostas
intermediárias: pegar a chave na posição certa para que entre na fechadura,
encaixá-la na fechadura, virar corretamente e abaixar então a maçaneta. São
essas diversas respostas que, reforçadas (bem-sucedidas), preparam a etapa
seguinte e mantêm a cadeia de respostas até que o objetivo do comportamento
seja atingido. Para os cognitivistas, o
que mantém um comportamento são os processos cerebrais centrais, tais como a
atenção e a memória, que são integradores dos comportamentos (BOCK. et al,
1993, p. 101).
Esta questão Hilgard (1973)
trata como: Intermediários Periféricos
versus Intermediários Centrais, fazendo o seguinte relato: desde que Watson
promulgou a teoria de que o pensamento era mera execução de movimento subvocais
da fala, os teóricos do estímulo-resposta têm preferido descobrir respostas ou
movimentos intermediários para servirem como integradores de sequências de
comportamento. Tais movimentos intermediários produzidos podem ser
classificados como mecanismo periférico, em contraste com os intermediários
centrais (ideacionais). Os teóricos do estímulo-resposta tendem a acreditar que
um tipo de resposta muscular encadeada, ligada talvez por respostas
antecipatórias fracionárias ao objetivo, serve para manter um rato correndo até
uma caixa-alimento distante. O teórico cognitivo, por outro lado, infere mais
livremente processos cerebrais centrais tais como memórias ou expectativas,
como integradores do comportamento que procura o objetivo.
As diferenças de preferência sobrevivem,
neste caso, porque ambos os tipos de teóricos dependem das inferências do
comportamento observado e as inferências não são diretamente verificadas em qualquer
um dos casos. É potencialmente mais fácil verificar movimentos da língua
relacionados com o pensamento do que descobrir no cérebro um traço de memória
revivido, mas, na verdade, uma tal verificação não é oferecida com a precisão
necessária para compelir a se acreditar na teoria. Nessas circunstâncias, a
escolha entre a explicação periférica e a central não é forçada, e estar a
favor de uma ou de outra posição depende de preferências sistemáticas mais
gerais (HILGARD, 1973).
A maneira como se soluciona uma nova situação-problema
Para os teóricos do condicionamento ou estímulo-resposta,
evocamos hábitos passados apropriados para o novo problema e respondemos, quer
de acordo com os elementos que o problema novo tem em comum com outros já
aprendidos, quer de acordo com aspectos da nova situação, que são semelhantes à
situação já encontrada. Por exemplo: quando
a criança aprende a dar laço nos sapatos, saberá dar laço em presentes, no
vestido ou na fita do cabelo. Os cognitivistas
acreditam que, mesmo no caso de haver toda a experiência possível com as
diversas partes do problema, como saber todas as etapas para um laço, isso não
garante que a solução do problema seja alcançada. Seremos capazes de solucionar
um problema, se este for apresentado de uma forma, mas não de outra, mesmo que
ambas as formas requeiram as mesmas experiências passadas para serem
solucionadas (BOCK. et al, 1993, p. 101).
Ainda segundo a teoria
cognitivista, o entendimento das principais variáveis que envolvem um caso
posto, facilita um insight para a sua solução. Por exemplo, quando se coloca o
desafio de montar um quebra-cabeça e se percebe o encaixe perfeito de uma das
peças, isto ocorre sem que antes tenha havido qualquer tentativa.
Visto pelo olhar de Hilgard
(1973), esta controvérsia é denominada de: Ensaio
e erro versus Insight na Solução de Problemas. E prossegue fazendo a
seguinte indagação: Quando aquele que
aprende confronta um problema novo, como é que ele chega à solução? e responde:
O psicólogo do estímulo-resposta acha que ele convoca os hábitos passados
apropriados para o problema novo e responde quer de acordo com os elementos que
o problema novo tem em comum com outros familiares, quer de acordo com os
aspectos da nova situação que são semelhantes a situações já encontradas. Se
isto não o leva à solução, aquele que aprende recorre ao ensaio e erro,
trazendo do seu repertório de comportamento uma resposta atrás da outra até que
o problema seja resolvido.
Ainda segundo Hilgard
(1973), o psicólogo cognitivista concorda com grande parte desta descrição
sobre o que aquele que aprende faz, mas acrescenta interpretações que o
psicólogo do estímulo-resposta não oferece. Ele assinala, por exemplo, que
mesmo nos casos de haver toda a experiência que se possa exigir com as partes
de um problema, não há o que garanta que aquele que aprende seja capaz de, com
certas experiências passadas, alcançar a solução. Ele poderá ser capaz de
solucionar o problema se este for apresentado de uma forma, mas não se for
apresentado de outra, mesmo que ambas as formas requeiram as mesmas
experiências passadas para serem solucionadas. Por outro lado, para o teórico
cognitivo, o método preferido de apresentação permite uma estrutura perceptual
que leva ao insight, isto é, à compreensão das relações essenciais do caso em
questão.
O psicólogo do
estímulo-resposta olha a história passada de quem aprende para encontrar a
solução, e o psicólogo cognitivo olha para o presente da situação do problema.
Tanto a preferência pelo passado do problema pelo psicólogo do
estímulo-resposta, como pelo presente da solução pelo cognitivista, inibe a
preferência por uma posição contraria.
Não se deve deduzir, devido a essa
diferença de preferência, que qualquer um dos teóricos esteja cego em relação à
totalidade da situação de aprendizagem, Tanto os fatos do experimento do
insight como os fatos da aprendizagem da habilidade são aceitos por ambos os
teóricos. Devemos lembrar novamente que um único experimento não vai demolir
nem a interpretação de acordo com o ensaio e erro e nem a interpretação de
acordo com o insight Hilgard (1973, p.14)).
[1]Edwin Garrigues Boring (1886-1968) foi um psicólogo
experimental americano que depois se tornou um dos primeiros historiadores da
Psicologia.
[2] Gardner Murphy
(1895-1979) foi um psicólogo americano especializado em psicologia social e
personalidade, e parapsicologia. Autor de vários textos de psicologia,
incluindo a introdução histórica à psicologia moderna (1929; 1949), Personalidade
(1947), e as potencialidades do Homem (1958). Ele explorou especialmente
a motivação, a personalidade e os processos criativos.
[3] Psiquiatra e
professor americano, Ernest Ropiequit Hilgard, formou-se em Engenharia Química
pela Universidade de Illinois. Na sua investigação, Ernest Hilgard estudou os
processos de compreensão da leitura. Hilgard foi ainda um pioneiro no estudo da
função da hipnose no comportamento e na resposta dos seres humanos.