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esde os idos de 1921, que psicólogos
famosos concebem a inteligência como a capacidade que os seres humanos têm de
aprender com a experiência, e que, ao mesmo tempo, vão utilizando esses novos
conhecimentos para, a partir da compreensão e do controle de seus próprios
processos do pensamento, conhecidos por metacognitivos, irem se adaptando ao
meio que os cercam.
[...] a inteligência é a capacidade
para aprender a partir da experiência, usando processos metacognitivos para
melhorar a aprendizagem, e a capacidade para adaptar-se ao ambiente
circundante, que pode exigir diferentes adaptações dentro de diferentes
contextos sociais e culturais (STERNBERG, 2000, p. 400-401).
Mais recentemente, os especialistas
consideraram que, dependendo da cultura em que vivi o homem, ele pode ser
considerado mais ou menos inteligente. Todavia, há de se ressaltar que, o senso
comum tem suas próprias concepções, avaliações e definições sobre o que é inteligência
ou ser inteligente. E assim o que pode ser considerado inteligente num contexto
pode não ser considerado em outro.
No dia-a-dia, nos deparamos com
indivíduos que podem ser considerados inteligentes pelo que fazem. Por exemplo,
o indivíduo é tido como inteligente por ser um gênio jogando futebol; o outro
por ser um cirurgião por realizar uma cirurgia extremamente difícil; outro é o
mecânico que resolve problemas impossíveis em veículos e máquinas; o contador
pela habilidade em lidar com números; o cientista por proporcionar novas
descobertas e melhorias para a humanidade etc. Como afirma Bock et al (2001): outras
concepções de inteligência incluem a qualidade de adaptar-se a situações novas
e aprender com facilidade.
As concepções científicas da inteligência
não são muito diferentes das do senso comum, como relata Bock, transcrevendo
parte do livro: Avaliação da Inteligência de Gohara Yehia:
[ ] em um simpósio sobre inteligência
realizado em 1921, grande número de psicólogos expôs suas opiniões a respeito
da natureza da inteligência. Alguns consideravam um indivíduo inteligente na
medida em que fosse capaz de um pensamento abstrato; para outros, a
inteligência era a capacidade de se adaptar ao ambiente ou a capacidade de se
adaptar a situações relativamente novas ou, ainda, a capacidade de aquisição de
novos conhecimentos. Houve várias teorias sobre inteligência: as que
postulavam a existência de uma inteligência geral, as que postulavam a
existência de várias faculdades diferenciadas e as que defendiam a existência
de múltiplas aptidões independentes (BOCK et al, 2001, p.180 apud
ANCONA-LOPEZ, 1987, grifo nosso).
Segundo Jesus (2009), da mesma forma
que nos simpósios realizados até então, nos dias atuais ainda há muita
divergência sobre o que é e como pode ser mensurada a inteligência humana.
Ainda de acordo com Jesus (2009 apud STERNBERG, 1990), um bom método para
entender a inteligência é por meio de modelos teóricos. E esses modelos,
frequentemente, utilizam metáforas para explicar as pesquisas existentes, bem
como para nortear questões futuras, como se pode observar no quadro abaixo.
METAFÓRA
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CONCEPÇÃO
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Metáfora Geográfica
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A inteligência é vista como um mapa
da mente. Alguns teóricos dessa visão são: Spearman (1927), Thurstone (1938),
Guilford (1985), Cattell (1967), Vernon (1971) e Carrol (1993). A unidade
básica de análise nessa metáfora é o fator, tipicamente eleito como a fonte
das diferenças individuais. Algumas vantagens dessa visão: (a)
especialização clara das estrutura mentais; (b) operacionalização direta por
meio de testes mentais; e (c) disponibilidade de maquinário sofisticado para
a implementação.
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Metáfora Computacional
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A unidade básica de análise é o
processo elementar de informação. Algumas dos teóricos adeptos dessa visão
são: Simon (1976), Hunt (1978) e Sternberg (1977). Os expoentes dessa visão
geralmente utilizam em seus estudos análise do tempo de reação, análise de
protocolos e simulação no computador. Entre as vantagens dessa visão estão: (a)
sua especificação detalhada dos processos e estratégias mentais; (b) análise
do tempo real em tarefas de execução; e (c) disponibilidade de maquinário
sofisticado para a implementação.
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Metáfora Biológica
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Entre os principais teóricos dessa
perspectiva estão: Luria (1973), Hebb (1942), Halstead (1951) e Vernon
(1971). A Unidade principal de análise varia entre as teorias. Para Hebb, era
a conjunção celular; para Vernon, é a velocidade da condução neuronal.
Outros, como Luria e Halstead, propuseram teorias estruturais ligando partes
do cérebro a várias funções intelectuais. Os métodos de análise utilizados
incluem mensuração de potenciais evocados, de velocidade da condução neuronal,
avaliação da especialização hemisférica e escaneamento de partes do cérebro
envolvidas em diferentes tipos de tarefas mentais. Algumas vantagens dessa
metáfora: (a) relaciona a inteligência com sua fonte no cérebro; e (b)
geralmente utiliza técnicas de mensuração e experimentos precisos.
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Metáfora dos Sistemas
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Baseia-se na noção de que a
inteligência é um sistema complexo que integra muitos níveis de análise,
incluindo o geográfico, o computacional, o biológico, o antropológico e o
sociológico. O sistema e seus elementos em interação são a unidade de
análise. Entre os principais teóricos estão Gardner (1993), e Sternberg
(1997). Algumas vantagens dessa metáfora são: (a) o reconhecimento da
complexidade da inteligência; (b) a integração de múltiplos níveis de
análise; e (c) a extensão de habilidades incluídas nas teorias.
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Metáfora Sociológica
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Essa metáfora enfatiza a
importância da socialização para a inteligência. Entre os teóricos mais
conhecidos são incluídos Vigotsky bem como Feuerstein (1980). Entre as
vantagens dessa metáfora estão: (a) o reconhecimento da importância da
internalização de experiências inicialmente obtidas com outros; (b) o
reconhecimento do papel do mediador na internalização; (c) o reconhecimento
da diferença entre a capacidade latente e habilidade desenvolvida.
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Metáfora Genético-epistemológica
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O principal teórico é Piaget (1972)
e a unidade fundamental de análise é o esquema. Para Piaget o esquema está
presente durante todo o desenvolvimento. O método típico de pesquisa sob essa
visão é a observação via estudos de caso e experimentação. Algumas vantagens
dessa metáfora são: (a) a compreensão que se tem dela como uma teoria
de inteligência e desenvolvimento intelectual; (b) a quantidade expressiva de
pesquisas realizadas sob o enfoque dessa metáfora com crianças de todas as
idades ao redor do mundo; e (c) os detalhes com os quais muitas estruturas e
processos são descritos.
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Quadro: Metáforas Teóricas sobre a Natureza da
Inteligência
Fonte: Adaptado de Jesus (2009 apud
Sternberg, 1990)